Caros leitores, antes de discutirmos nosso salto econômico,
sugiro uma breve introdução, onde aproveito para me recordar (como se fosse
ontem) do anuncio que colocava o Brasil como a
sétima economia mundial. Ocorreu precisamente na semana que
antecedeu o carnaval de 2011, quando, sob um verão escaldante, observávamos de
longe (por meio das notícias da imprensa internacional) a teimosia do rigoroso
inverno econômico europeu – onde já se notava com clareza os primeiros
contornos da crise crônica na qual o antigo continente se meteu.
Os grandes também caem. E seus tombos são
feios...
Na sequência, assistimos aturdidos a uma das mais excepcionais derrocadas já vistas envolvendo até então sólidas, poderosas e orgulhosas potências mundiais. Sem dúvida, um espetáculo triste e arrepiante, não apenas pelos fatos em si, mas pelo contexto panorâmico e conjuntural, sem saída, com pouquíssimas alternativas disponíveis e sem que uma profunda ferida política e social começasse a arder.
Na sequência, assistimos aturdidos a uma das mais excepcionais derrocadas já vistas envolvendo até então sólidas, poderosas e orgulhosas potências mundiais. Sem dúvida, um espetáculo triste e arrepiante, não apenas pelos fatos em si, mas pelo contexto panorâmico e conjuntural, sem saída, com pouquíssimas alternativas disponíveis e sem que uma profunda ferida política e social começasse a arder.
Vimos os grandes naufragarem, lutando com uma administração
tomada pelo alarmante componente da insistência em uma governança em
frangalhos, onde abordagens superficiais e repletas de retórica pouco serviram
para aplacar diferenças e costurar um acordo regional que oferecesse não apenas
tranquilidade aos mercados, mas esperança em uma retomada sólida e tracionada.
Enfim, um filme de enredo melancólico. A desesperança foi
soterrando, pouco a pouco, aquilo que durante anos foi a principal referência
de modelo social, econômico e político: o modelo europeu ocidental. Mas a
tristeza mais dolorida é aquela sentida por aqueles que deixaram as
oportunidades escaparem entre os dedos, com desperdício do tempo e inexistência
do senso de urgência.
No caso europeu, à luz do conhecimento da bagunça que tomou
conta dos seus mercados financeiros, hoje não é difícil imaginar que há muito o
abismo vinha sendo construído, seja pelo excesso de desregulamentação, seja
pela soberba que anos e anos de bonança podem acarretar, ou quem sabe pela
preguiça em impor um ponto de inflexão para um mecanismo de benefícios sociais
que simplesmente não poderiam se sustentar no horizonte distante.
Algo difícil de explicar, também concordo. Em 2008, logo após o
estouro da crise, em uma cerimônia com vários economistas e especialistas, a Rainha Elizabeth II questionou a todos com a seguinte expressão:“Mas como os senhores não
conseguiram prever isso?”. Pois é. A situação mundial
deteriorou-se, mas como ficamos nós, os brasileiros, diante disso tudo?
Enquanto isso, os emergentes mostram
desenvoltura...
Nós, os brasileiros, que comemoramos no carnaval de 2011 o posto de 7ª economia mundial, e que agora, menos de um ano depois, somos instados a festejar (mesmo com as ressalvas de especialistas sobre o poder dos truques decimais) a nossa ascensão à 6ª posição, com direito ao pré-agendamento para a festa da 5ª posição para antes de 2015, ultrapassando a orgulhosa França até lá.
Nós, os brasileiros, que comemoramos no carnaval de 2011 o posto de 7ª economia mundial, e que agora, menos de um ano depois, somos instados a festejar (mesmo com as ressalvas de especialistas sobre o poder dos truques decimais) a nossa ascensão à 6ª posição, com direito ao pré-agendamento para a festa da 5ª posição para antes de 2015, ultrapassando a orgulhosa França até lá.
É óbvio que tudo isso é lisonjeiro e, naturalmente, há o mérito
de todos nós. Fizemos um bom pedaço da lição de casa, resistimos ao modismo
burro da desregulamentação excessiva, soubemos aproveitar algumas oportunidades
e, de fato, nunca efetivamos explorações coloniais hostis como forma de
fortalecimento de nossas riquezas.
Mas, peço aos nacionalistas de plantão que me perdoem pela
polêmica que eventualmente esteja sendo plantada aqui (e desta vez faço justiça
ao setor empresarial que quase nenhum alarde fez com a notícia). De fato me
sinto bem melhor como patriota e desconfio um pouco do culto nacionalista, não
por uma questão ideológica, mas por identificar no ufanismo uma credulidade
ingênua, uma certa cegueira.
O que podemos esperar do Brasil?
A questão é que, diante da demolição de um modelo dominante e da coexistência com novas potências que trazem consigo novas referências, questiono o que pode o mundo esperar deste país tropical, tolerante, multicultural, multiétnico e que por anos a fio foi preconceituosamente considerado frágil e distante de um arcabouço cultural apropriado ao progresso? Ou melhor, o que se espera de uma grande e ascendente potência mundial? Aqui me permito conjecturar:
A questão é que, diante da demolição de um modelo dominante e da coexistência com novas potências que trazem consigo novas referências, questiono o que pode o mundo esperar deste país tropical, tolerante, multicultural, multiétnico e que por anos a fio foi preconceituosamente considerado frágil e distante de um arcabouço cultural apropriado ao progresso? Ou melhor, o que se espera de uma grande e ascendente potência mundial? Aqui me permito conjecturar:
· Espera-se que
sejamos de fato uma potência, tomados como exemplos de
eficiência, capacidade na resolução de nossas próprias mazelas, com
transparência inequívoca e capazes de construir um polo econômico verdadeiramente
sólido, com democracia e liberdade;
· Espera-se que
possamos estabelecer uma referência para o desenvolvimento científico e para a
inovação;
· Espera-se força
estratégica para apoiar e colaborar de forma marcante na contenção de abusos
internacionais e
devaneios que coloquem a paz em risco;
· Espera-se senso
de responsabilidade internacional, em que a importância da
integração global e as verdadeiras questões relativas a sustentabilidade passem
a ser encaradas além da retórica e imunes a interesses internacionais nocivos e
maquiavelicamente concebidos.
Em resumo, as expectativas sobre este Brasil que desde os anos
50 não para de crescer, independentemente de suas mazelas, são plausíveis. As
perspectivas, mais que isso, potencialmente serão colocadas em prática e
realizadas, pois capacidade não nos falta. Nossa nação tem todo o material
humano, natural e financeiro para tal.
No entanto, precisamos, com urgência, declinar de comemorações
baratas e colocar, de uma vez por todas, a mão na massa. Precisamos fazer valer
tudo aquilo que podemos ser, mas que só seremos se trabalharmos. Muito. O mundo
nos espera, com ansiedade.
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