domingo, 12 de agosto de 2012

Os Corumbas

Obra publicada na década de 30, belíssimo livro cujo conteúdo retrata a cidade de Aracaju do início do século XX. 



Sá Josefa e Seu Gerado são dois agricultores do interior do Sergipe. Conhecem-se emblematicamente numa festança popular de comemoração da ocorrência das chuvas. Casam-se e tem filhos – alguns sobrevivem e trabalham desde cedo, outros morrem. As águas viabilizam sobrevida na roça: entretanto, o tempo passa, a chuva vai ficando escassa, os usineiros e senhores de engenho vão pagando cada vez menos pela cana e a vida no campo torna-se insuportável. O casal parte para Aracaju em busca de emprego nas fábricas de tecido. Àquela altura a família de retirantes conta com 3 mulheres e um homem, cada qual havendo de se empregar nas recém-construída indústria de algodão da capital. 

A jornada de trabalho é descrita por Fontes contemplando as diferentes percepções das personagens à exploração da força de trabalho barata dos corumbas. 

Alguns personagens reagem com ressentimento, rancor individual que se encaminha no abandono da família – este é o caso de Rosenda, a filha mais velha, a primeira a fugir com um namorado para o desgosto de Sá Josefa. Outros reagem à revolta através do riso – este é o caso da filha Albertina, personagem particularmente interessante em sua forma de encarar o trabalho pesado na fábrica, o assédio moral de patrões e o relacionamento com os homens. O seu fim, porém, se assemelha ao de sua irmã mais velha, com o agravante: mesmo tendo sido sempre cética em relação ao amor, apaixona-se, é violada, abandonada e apenas lhe resta a prostituição.

Pedro, o filho homem, é uma pessoa calada e fechada em seu mundo. Trava amizade com um intelectual que lhe introduz textos de Lênin e se junta a grupo que, pela primeira vez, organiza uma greve geral na capital do Sergipe – seu destino é a prisão, após a traição de advogado pessoalmente simpático à causa dos operários, mas ligado organicamente ao Estado. 

A desagregação crescente e gradual dos corumbas conflui para que Sá Josefa e Geraldo tenham de perceber(e sentir) os efeitos perversos da vida na cidade e a derrocada dos seus sonhos. Todos os filhos se vão, só restam os pais. Não vamos dizer o que ocorre finalmente com o casal, evidentemente. 

Uma passagem: a reação dos patrões 

“As fábricas sentiram, então, toda a gravidade do perigo. Esqueceram questões de concorrência, que as havia afastado desde muito, e passaram a deliberar como um só corpo, unidas e solidárias. As suas diretorias, incorporadas, foram até a presença do chefe da polícia, que prometeu tomar as mais severas providências”.

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