terça-feira, 2 de outubro de 2012

Mercado de Ações no Brasil: Tendencia de baixa


Farra do "almoço grátis" acabou no mercado de ações do Brasil?

Por Paula Barra

A Pimco (Pacific Investment Management Company) - uma das maiores gestoras de recursos do mundo, - adverte que a combinação de retornos atraentes em negócios que assegurem a sustentabilidade de geração de caixa está cada vez mais desafiadora no Brasil. O juro historicamente baixo no País (atualmente em 7,5% ao ano) não representa mais um sinal positivo claro para a renda variável, avaliam Maria Gordon, líder da equipe de ações para América Latina, e Richard A. Flax, analista para a região. 
Eles explicam que o juro baixo no Brasil não indica um cenário positivo para as ações. "As autoridades se moveram para um caminho de medidas macroprudenciais, o que gera uma enorme gama de implicações para os investidores em ações. No longo prazo, a redução do custo dos negócios no País será positiva, mas pode vir em detrimento da rentabilidade das empresas", reforçam. 
À primeira vista, contudo, eles acreditam que o impacto da Selic baixa será positivo: os custos de capital irão cair, os valuations devem aumentar, o crescimento econômico acelerar e, sem dúvida, isso deve se traduzir em melhor crescimento de lucro para as empresas. 
A realidade, por sua vez, será mais sutil, esperam Maria e Flax. O governo brasileiro quer que o juro fique em patamar baixo, mas também se resguardar dos perigos da aceleração da inflação. Como resultado, as autoridades se moveram para um caminho de medidas macroprudenciais, com uma enorme implicação para os aplicadores em ações no Brasil. Eles avaliam que ao passo que o custo de capital diminui no Brasil, os retornos e fluxo de caixa dos setores regulados ficam sob pressão.
Diante desse quadro, a Pimco vê quatro principais implicações para o mercado de ações no Brasil.
1.  A primeira delas seria que as mudanças políticas são imprevisíveis e significantes, promovendo inesperados impulsos para certos setores e significativos desafios para outros. 
2. Eles lembram que o retorno para os reguladores das indústrias estão mais suscetíveis às mudanças do atual momento. Historicamente, indústrias tais como elétricas e concessionárias de rodovias têm se beneficiado da queda do juro, mas o governo está "claramente" focado em dividir tais benefícios com o consumidor.
Como exemplo, eles apontam o recente corte no preço de energia no País através da criação de novas condições para quando os contratos de concessões forem renovados. Essas condições estão dentro do escopo dos contratos existentes, mas são mais onerosas do que o mercado de capitais esperava. Com isso, os altos retornos nas renovações de concessões desfrutados pelas geradoras brasileiras devem cair, potencialmente marcando o fim do "almoço grátis" no Brasil, em referência a uma expressão conhecida no mundo econômico, de que alguém sempre acaba pagando a conta, avaliam Maria e Flax. 
3. Em relação ao crédito, a Pimco afirma que as taxas são distorcidas pela atuação dos bancos estatais, principalmente o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Caixa Econômica e Banco do Brasil (BBAS3). As instituições brasileiras viram sua lucratividade reduzir nos últimos anos, mas os estatais aceleraram a tendência ao se tornar cada vez mais agressivos na disponibilidade de crédito com juro baixo; e os bancos privados começaram a seguir. 
Os analistas avaliam que encontrar um patamar adequado de ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido, na sigla em inglês) continua um grande debate entre investidores. "Os bancos privados continuam convencidos de que o patamar de 20% é sustentável, mas reconhecemos que isso é desafiador. Nós acreditamos que baixos retornos podem ser compensados por elevados volumes, principalmente em hipotecas", reforçam. 
4. Por fim, eles apontam as medidas focadas no crescimento econômico, que deram impulso para as montadoras, fabricantes e revendedores de eletrodomésticos de linha branca. Ainda mais recente, o governo cortou o imposto na folha de pagamento de alguns setores. Cada um desses movimentos tem implicações imediatas e potencialmente significativas para uma série de setores, como o corte do IPI dos automóveis, que elevou fortemente as vendas de veículos a partir de maio desse ano. 
Diante desse cenário, a gestora reforça que está focada em encontrar retornos atraentes em negócios que assegurem a sustentabilidade de geração de caixa, mas essa combinação está cada vez mais difícil no País. "Em alguns casos, precisamos ver as expectativas de lucro antes de revistar alguns setores", disseram. Em particular, eles apontam que precisam ser cautelosos com os preços das ações que implicam altos retornos sobre o capital, especialmente em setores com incertezas regulatórias. 
Segundo eles, as empresas estatais estão cada vez mais indo contra os interesses dos acionistas minoritários. Eles apontam esse cenário para os investimentos nos orçamentos das grandes empresas do setor petróleo, diante de mudanças nos seus regimes fiscais e queda das margens, citando como exemplo a Petrobras (PETR3PETR4), que registra queda no investimento sobre capital, que foi de 46% em 2001 para 11% em 2011. 
Com uma lista cada vez mais apertadas de setores atraentes, a gestora lista o setor de consumo como uma boa opção em meio a esse cenário. 

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