Resumo da obra “Discurso sobre a Origem e os Fundamentos das Desigualdades entre os Homens” de J.J Rousseau
Por: André Luiz Avelino
Dos Dois Tipos de
Desigualdades.
Desigualdade Física ou Natural – Estabelecida pela natureza (idade, força corporal, saúde); É homem
despojado de tudo o que é adquirido no convívio social - Concepção hipotética
obtida por reflexão distanciada dos conceitos científicos, baseada na natureza,
anteriormente à história; Homem bípede, medindo a natureza com os olhos; Ágil,
forte e robusto devido às vicissitudes como o clima e ferocidade dos animais;
Limitado pela infância e velhice, mas não por doenças, por esta ser mais
condizente com o estado civil e não com o estado natural; Criatura livre e
dispersa entre as outras; Guiado por 2 princípios ou sentimentos naturais, o amor de si – desejo ardente pelo próprio bem estar – e a piedade – repugnância ao ver qualquer ser sensível perecer, principalmente os
semelhantes. Desses dois princípios, sem que seja necessário o da
sociabilidade, decorrem todas as regras do direito natural, regras que a razão
é forçada a restabelecer sobre outros fundamentos quando com seus
desenvolvimentos sucessivos sufoca a natureza. Possui em estado latente,
enquanto o meio externo permanecer imutável, a perfectibilidade – faculdade peculiar
de se aperfeiçoar em função das circunstâncias, desassociada da razão, já que
as únicas operações da alma humana no estado natural são perceber e sentir,
querer e não querer, desejar e temer; O homem natural desejava apenas a
alimentação, a fêmea e o repouso; seus males eram a fome e a dor; Difere dos
outros seres sensíveis pela liberdade e pela perfectibilidade e não pela
racionalidade, suas ideias eram muito simples; Seu estado é propício à paz. A
tranquilidade de suas paixões o impede de agir mal. Neste estado as diferenças são, tão e somente, físicas.
Desigualdade Moral ou Política – Privilégio que uns usufruem em prejuízo de outros; Consentida
pelos homens. A conclusão a
propósito deste estado é obtida por reflexão, estabelecida pelo preenchimento
da lacuna existente entre o estado de natureza e a desigualdade evidente no
estado civil por meio de conjecturas auxiliada pela história, e na ausência
desta a filosofia.
Do Estado Natural ao Estado Político.
Mudanças iniciais – A variação do clima, a necessidade de proteção contra os
animais, à procura por alimentos propiciam os primeiros desenvolvimentos
adquiridos por meio da perfectibilidade. Das primeiras aquisições surge o apego
aos objetos que causam a comodidade. As relações tornam-se mais comuns, devido
à proximidade estabelecida pela busca do comodismo, propiciando a constituição
da família que faz do homem um ser mais fraco fisicamente. Os homens ao conviverem mais próximos passam a se apreciar
mutuamente e se lhes forma no espírito a ideia de consideração e cada um
pretendeu ter direito a ela. Saíram daí os primeiros deveres de civilidade.
O primeiro grau de desigualdade – O primeiro que
cercou um terreno e atreveu-se a dizer: Isto é meu, e encontrou pessoas simples
o suficiente para acreditar nele, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil; Houve reivindicação das terras e divisão destas justificada pelo
trabalho e tempo empreendido nelas, devido o desenvolvimento da agricultura e
da metalurgia.
Os que ficaram sem terras submeteram-se aos que tinham através do trabalho. Nasce a primeira grande desigualdade: a pobreza e a riqueza.
Os
que não obtiveram terra e nem trabalho não tiveram alternativa que não roubar.
Da riqueza surge a cobiça, a ambição, o desprezo, a vergonha, sentimentos que
ferem o amor próprio – sentimento que leva cada um a fazer mais caso de si do que de
qualquer outro,
que inspira aos homens todos os males que se fazem mutuamente, e que é a
verdadeira fonte da honra, sentimento inexistente no estado de natureza.
Os
ricos percebendo-se impotentes em preservar suas posses propõem um projeto que
consistia em transformar seus adversários, os pobres, em seus defensores. Por
meio de um discurso enganador mostram aos pobres o horror daquela situação de
conflito e insegurança, e sugeri uma união de forças para garantir a cada o que
lhe é de direito através de leis que defendam a todos sem exceção. Com as leis estabelecidas – primeiro pacto – o homem perde sua
liberdade natural, e a lei da desigualdade e da propriedade fixam-se.
O segundo grau de desigualdade – Da primeira desigualdade surge a segunda: a necessidade
de um governo, a instituição da magistratura,
pacto concebido entre o povo e o chefe eletivo, onde ambos se
obrigaram a observar as leis estipuladas. Esses cargos, de eletivos passaram a
ser hereditários, e de funcionários, os chefes passaram a ser proprietários do
Estado, subjugando aqueles a quem deveriam representar. O poderoso e o fraco, ou seja, os que mandam e os que obedecem é o
segundo grau de desigualdade estabelecido pela magistratura.
O terceiro grau de desigualdade – O despotismo - É a evolução do
segundo grau de desigualdade, ocasionado por um governo mal constituído.
A desigualdade de consideração e de
autoridade forçou os homens que viviam em sociedade a compararem-se e a tomar
conhecimento de suas diferenças. E aqueles que promovem a distinção através da
qual os homens se medem tornam os homens rivais.
Em
resultado desta desordem Rousseau conclui que o povo não teria mais chefe, e o
poder estaria nas mãos dos tiranos, que fazem prevalecer à vontade pela força.
Logo o estado perderia sua legitimidade. Por sua vez o tirano é destituído do
poder, passando a valer a lei do mais forte, não existindo mais pacto, dando
origem a senhores e escravos. E assim os homens
são jogados a um segundo estado de natureza, o estado político, diferente do
primeiro, o estado natural, que era puro, sendo o segundo resultado da
corrupção.
Da razão.
Desenvolvimento da razão – O progresso do entendimento é proporcional à necessidade.
A constância das coisas no estado de natureza permite a não necessidade de
prudência e curiosidade. Mas, a partir das primeiras mudanças, a
necessidade surge, e desperta as paixões, que por sua vez, desperta o
entendimento. Quanto mais violentas as paixões, maior a necessidade de leis
para contê-las.
A piedade e o amor próprio, e a critica a razão - A reflexão é um
estado contra a natureza; é a razão que produz o amor próprio, sufocando o
sentimento de piedade que faz às vezes da lei, no estado de natureza. A piedade
concorre para a conservação da espécie sem o auxilio da reflexão. Esta é
uma crítica, de Rousseau, à Sócrates que preconiza a aquisição da virtude por
meio da razão. Para Rousseau, o costume, o hábito da piedade, produz a virtude e
não a razão.
A piedade modera o amor próprio –
sentimento que leva cada um fazer mais caso de si do que de outro, inexistente
no estado de natureza, nascido na sociedade pela comparação entre os homens; No
estado de natureza os homens estão dispersos, o que impede as comparações. Mas,
a racionalidade o produz o amor próprio, a filosofia isola a piedade.
Origem das ideias - As ideias gerais são oriundas do
discurso, apreendidas somente com o auxilio da linguagem. Motivo porque os
animais não possuem a perfectibilidade, eles não possuem a linguagem que lhes
possibilitariam o desenvolvimento de suas ideias. As ideias particulares originam-se nas
sensações e as ideias gerais são de origem intelectual, concebidas por meio do
discurso. Os animais também possuem ideias, já que possuem sentidos, diferindo
dos homens apenas na intensidade. É preciso falar para se ter ideias gerais.
Origem da Linguagem – A primeira
linguagem do homem é o grito da natureza, a imitação dos sons da natureza.
Tendo o filho muito mais a explicar a sua mãe, devido as suas necessidades, do
que esta a ele, é bem possível que isto tenha auxiliado na criação de um idioma;
os sons eram interpretes das ideias.
Perfectibilidade – É ela quem tira o
homem de sua condição originária; É a fonte de todas as desgraças do homem;
faculdade distintiva; desenvolve todas as outras faculdades.
Referência Bibliográfica
ROUSSEAU,
Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os
fundamentos da desigualdade entre os homens. Editora Universidade
de Brasília. Brasília/DF; Editora Ática – São Paulo/SP – 1989.
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